Documentário, que será lançado nesta quarta-feira em sessão na Assembleia Legislativa, mapeia o segmento que mais cresce entre os consumidores brasileiros
O primeiro documentário sobre a produção de alimentos orgânicos no Brasil é catarinense. Há três anos angariando recursos para a sua realização e outros dois para a pesquisa e para colocar o pé na estrada, Brasil Orgânico estreia nesta quarta-feira na terra da produtora Contraponto, em Florianópolis, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente. A sessão será transmitida na Assembleia Legislativa, às 19h30.
Durante um ano, a equipe viajou para os seis biomas do país para gravar imagens e entrevistas com especialistas e com agricultores que, da Amazônia até a Mata Atlântica, optaram por cultivar alimentos orgânicos, segmento da agricultura que mais se desenvolve no país, com crescimento de 20% ao ano.
Lícia Brancher, uma das diretoras do documentário e formada em Agronomia, ressalta que a intenção era mudar o foco da discussão sobre os produtos sem agrotóxicos, apresentando ao consumidor as experiências positivas de quem investe no alimento independente da região em que se encontram.
— Queríamos desviar o olhar sobre a contaminação que as produções tradicionais causam e mostrar que é possível produzir orgânicos na agricultura familiar e em larga escala também — observa Lícia.
Santa Rosa de Lima é a referência de SC na produção
Entre as histórias gravadas para o documentário, está a de Leonilda Baumann, de 45 anos, agricultora em Santa Rosa de Lima, no Sul do Estado. Junto com a família, ela cultiva mel de abelha para a venda, além de legumes, frutas e hortaliças para o consumo da pousada que administra para receber os cerca de 50 turistas interessados em acompanhar o dia-a-dia do agricultor aos finais de semana.
Leonilda afirma que a procura pelos alimentos orgânicos tem crescido em SC, mas que a rentabilidade para o agricultor familiar só é possível com a ajuda de uma associação ou cooperativa.
— É um bom complemento trabalhar com a venda de produtos orgânicos junto com o turismo rural. A produção de mel tem sido viável porque trabalhamos com a associação (dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral). Antes, eu não conseguia vender tudo o que produzia e, agora, vendo tudo e ainda falta mercadoria — afirma a produtora.
Apesar de o Brasil ser o líder mundial no uso de agrotóxicos na alimentação, dado que é divulgado no início do documentário, o mercado em potencial dos orgânicos no país dá mostras de que investir em produção livre de pesticidas pode manter a nova geração no campo.
Quando Leonilda era criança, sua família trabalhou com a produção de fumo e, quando chegou a sua vez de administrar a terra, optou por plantar alimentos livres de agrotóxicos — a mãe dela faleceu aos 49 anos por causa do produto.
Seguindo os passos da agricultora, o filho de Leonilda, Jackson, acompanha a mãe no trabalho e não pensa em seguir outra profissão. No ano passado, aos 19 anos, ele viajou a quatro cidades da França para conhecer como funcionava o turismo rural por lá e adaptar as iniciativas positivas em sua propriedade.
— É uma realidade diferente, mas o trabalho desenvolvido é muito próximo. A diferença é que lá existe a venda direta dos produtos para os consumidores, porque as cidades rurais são localizadas perto dos grandes centros. Isto é bem interessante, porque hoje pagamos muito caro no Brasil pela cadeia de distribuição dos alimentos.
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