Po Rafael Dias Toitio
Na última quarta, dia 15 de maio, Brasília viu suas ruas se colorirem com a IV Marcha Nacional contra a Homofobia que, em torno da bandeira do arco-íris, aglutinou uma série de movimentos sociais e outras bandeiras de luta. Com o tema “Estado laico, Democracia e Direitos Humanos”, o Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) promoveu uma semana de atividades e debates sobre as estratégias para garantir a laicidade do Estado e o fortalecimento do processo de democratização da nossa sociedade. Entre muitas estratégias discutidas, estavam os espaços de formação política, a manifestação nas ruas e a articulação com outros movimentos sociais e populares.
E foi isso que a IV Marcha contra a Homofobia fez: colocou na rua do lado do Movimento LGBT o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Quilombo Rio dos Macacos, o Levante Popular da Juventude, alguns segmentos do Movimento Feminista, do Movimento Sindical e da Marcha da Maconha. Todos denunciando as investidas dos setores mais conservadores, como a organização daqueles parlamentares religiosos que, ao impor seus dogmas e valores na construção da política, são uma ameaça constante à garantia global dos direitos humanos. Mas não apenas eles, pois esse processo também se expressa no fortalecimento da bancada ruralista, na popularidade midiática de líderes religiosos homofóbicos, machistas e racistas, no crescimento dos crimes contra as LGBT e a juventude negra, na criminalização dos movimentos, etc.
Contra o retrocesso e na busca de colocar a importância de suas lutas também para a população LGBT, o MST e o Quilombo Rio dos Macacos participaram da marcha ativamente, cuidando da segurança e da frente da manifestação que, segundo a ABGLT (Associação Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), reuniu em torno de 4 mil pessoas.
Em suas falas, os moradores do Quilombo Rio dos Macacos denunciaram as violações que estão sofrendo, verdadeiros crimes contra os Direitos Humanos. O quilombo, uma comunidade negra rural com mais de um século de existência, vem sofrendo com a Marinha do Brasil que se fixou no mesmo território nas décadas de 1950/60 e hoje reivindica a posse da terra pertencente ao quilombo. Os inúmeros casos de maus tratos na comunidade efetuados por membros da Marinha, mulheres estupradas e violências praticadas contra idosos e crianças, se agravam com o silêncio do setor público e a morosidade no procedimento de titulação legal do território da comunidade como quilombo.
O MST, que está organizado em Brasília no Acampamento Nacional Hugo Chávez para denunciar a paralisação da reforma agrária e o avanço do agronegócio no país, também se colocou em marcha contra o segundo adiamento do julgamento do fazendeiro Adriano Chafik Luedy, mandante confesso do Massacre de Felisburgo, ocorrido em 2004, quando cinco agricultores foram exterminados por 17 pistoleiros. A marcha seguiu até o Supremo Tribunal Federal (STF), onde o MST realizou uma mística para tornar pública a morosidade da Justiça no julgamento de crimes contra trabalhadores rurais e, com isso, a impunidade de seus autores e mandantes.
As ações articuladas dos movimentos evidenciaram como as diversas lutas e reivindicações dos movimentos de grupos e classes subalternas estão ligadas e imbricadas do ponto de vista da construção de uma democracia substantiva (e não apenas formal). Além de não se poder negar hoje a visibilidade crescente de travestis sem terra, gays quilombolas, proletárias lésbicas, professoras transexuais etc., deve-se atentar para o fato de que a justiça que é negligente e morosa nos julgamentos de assassinatos de trabalhadores rurais é a mesma que tapa os olhos para os homicídios das LGBT. A bala que extermina militantes sem terra no nosso país extermina também travestis e homossexuais. O machismo que leva ao estupro de mulheres quilombolas é o mesmo machismo que leva ao estupro “corretivo” de lésbicas. Torna-se, assim, cada dia mais inaceitável esconder a diversidade sexual e de identidade gênero presente nas classes trabalhadoras e nas camadas mais pauperizadas, o que traz a urgência de articular as pautas, lutas e desafios dos movimentos sociais e populares.
Hoje, dia 17 de maio, é o Dia internacional de Luta contra a Homofobia. A data foi escolhida porque nesse dia, no ano de 1990, a homossexualidade deixou de ser classificada como doença pela Organização Mundial de Saúde. A data é uma conquista da ação de militantes e organizações da luta pela diversidade sexual e um marco histórico que deve ser comemorado por todos e todas que se colocam ativamente na construção de uma nova sociedade.
Brasil de Fato
 
 
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